terça-feira, 6 de setembro de 2011

JMJ MADRID 2011 - TESTEMUNHO DA ANA AZEVEDO

Tentar testemunhar o que foi para mim a experiência da JMJ é um pouco complicado porque muito do que senti e vivi não consigo expressar por palavras, e outro tanto estou ainda a descobrir diariamente à medida que reflicto em tudo o que vivemos.


Houve vários momentos que me tocaram particularmente, já para não falar de toda a envolvência da JMJ que foi uma experiência fantástica. Contactar com todos aqueles jovens de várias partes do mundo, com culturas e línguas diferentes mas que falavam a «mesma linguagem» que nós, porque partilhavam connosco a mesma fé e acabavam, por isso, por estar mais próximos do que muitos daqueles que nos rodeiam diariamente, foi extraordinário. A alegria que todos transmitiam, e que deveria caracterizar todos os cristãos, esteve bem presente nesses dias. Ali estávamos mesmo com «ar de ressuscitados»  pegando um pouco na crítica que Nietzsche fazia aos cristãos. Mas voltando aos momentos que mais me tocaram, tenho de mencionar em primeiro lugar o musical Wojtyla que me deixou duas ideias a pairar na mente. Por um lado, aquela frase que, mais ou menos, dizia que se fossemos tudo o que podemos ser, incendiaríamos o mundo, bateu lá no fundo. Fez-me perceber que muitas vezes o que falta na nossa vida e nas nossas comunidades é a disponibilidade máxima de cada um de nós. Sem medos, sem desculpas, sem comodismo. Por outro lado, a questão da transformação de todas aquelas pessoas pelo contacto com João Paulo II fez-me pensar se nós, como cristãos, também não deveríamos conseguir transmitir algo aos outros, mesmo sem precisarmos de lhes dizer em que acreditamos. A nossa maneira de viver deveria fazer a diferença, devia trazer algo novo aos outros. E na maioria das vezes acho que não traz porque há algo na nossa vida que está errado. Ou há algo que fica dentro das paredes das nossas igrejas e dos nossos grupos em vez de sair para a vida…

Depois o encontro com os bispos portugueses foi também uma experiência muito boa mas que, confesso, me assustou um pouco. Isto porque, durante todo o encontro, eu só conseguia pensar que se a Igreja portuguesa se deu ao trabalho de fazer aquilo tudo só para os jovens, é porque realmente espera algo de nós e confia que sejamos capazes. E isso assusta!!! talvez porque compromete…

Os momentos de oração à noite foram também ocasiões muito marcantes. Depois do rebuliço e da correria do dia, que fazia muitas vezes com que não conseguíssemos digerir tudo o que tínhamos vivido, era aí que ia pondo as ideias em ordem, que me ia apercebendo do que tinha «recebido» durante o dia e que compreendia as experiências que o restante grupo ia também fazendo.

Mas um dos momentos que mais me marcou em toda a JMJ aconteceu com uma simples pergunta feita pelo padre Ricardo na missa que celebrámos no dia 17 e que pedia para reflectirmos sobre o que nos impede de ser firmes na fé (era mais ou menos esta a ideia, não me lembro bem da pergunta ). E aí eu percebi que o me impede é o facto de eu não confiar em Deus (e também nos outros, diga-se de passagem). E comecei também aí a perceber porque é que senti desde o início que tinha de ir à JMJ. É que, sinceramente, eu nunca tinha sentido nenhum interesse em participar nas Jornadas anteriores. Era algo em que nem sequer pensava (até porque não gostava lá muito do Papa ) e, por isso, nunca entendi a vontade que senti em participar nas Jornadas de 2011 desde que delas tomei conhecimento no Verão do ano passado. Entendi agora que precisava de aprender a confiar em Deus, mas a confiar mesmo a sério e não só quando EU tenho tudo sobre controlo; a confiar mesmo quando tudo parece desmoronar-se. E esta aprendizagem foi acontecendo durante todo o ano de preparação, sem que eu me apercebesse. Para já porque enquanto, por um lado, eu sentia que tinha de ir, por outro lado tudo acontecia de forma a dificultar a minha decisão: o casamento de uma das minhas melhores amigas durante a semana das Jornadas, o que me obrigava não só a voltar mais cedo e sozinha, mas também a perder os dias mais intensos do programa e a desistência de todo o meu grupo foram momentos complicados que me teriam feito desistir noutras circunstâncias. Mas algo me dizia que não precisava de desistir porque ia correr tudo bem. E eu confiei nem sei bem porquê. Depois durante a JMJ esta aprendizagem continuou: o confiar no grupo em coisas tão complexas como desabafos e reflexões e tão simples como nunca ter aprendido o caminho do alojamento até ao metro, simplesmente porque não era preciso. Havia sempre alguém que sabia. (E atenção, eu sou a pessoa que não vai a lado nenhum sem consultar o melhor percurso no Google e sem saber exactamente quais os transportes que tem de apanhar e onde estão as paragens ). Acho que até os momentos mais complicados que vivemos me ajudaram a aprender a confiar, a sentir que estava tudo bem porque estávamos juntos e com Deus. E não precisávamos de mais nada.

Na JMJ aprendi também que o «pão nosso de cada dia» é tudo o que precisamos. É que antes o que eu queria mesmo era o «pão meu dos próximos dois meses, no mínimo», assim para dar uma margem de segurança boa. Lá está, não confiava e só conseguia descansar se sentisse que tinha tudo sobre controlo e não teria sobressaltos nos tempos mais próximos. Mas durante aquela semana tudo se resolvia apenas quando tinha de resolver, não um dia antes, não uma hora antes. No momento. E isso bastava.

Resumindo, estou muito mais rica . Agora espero conseguir manter-me firme na fé através da certeza de que posso confiar n’Ele em qualquer situação, mesmo quando parece que Ele não está lá. Mas sinto que tenho também uma «missão»: a de viver cada vez mais enraizada n’Ele e a de tentar levar aos que aos que não partilharam connosco esta experiência um pouco do «abanão» que recebemos, para ver se, todos juntos, conseguimos fazer um pequeno «incêndio» que consiga transformar um bocadinho as pessoas e as situações que nos rodeiam.

                                                                                                                   Ana Azevedo

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